domingo, 3 de abril de 2011

O Homem Invisível



Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(O BICHO, Manuel Bandeira)


Às vezes, sair da nossa "área de proteção" é bom, né? É uma ótima oportunidade para termos um choque de realidade! Não que a realidade seja algo lindo, mas, necessário para abrirmos os olhos pro que nos cerca e muitas vezes deixamos cair no natural.


Quem me conhece, sabe ... Raríssimas vezes choro, tenho até amigas de longa data que nunca me viram chorando! Não que eu queira, ou que me prive, tenha vergonha... Simplesmente, não tenho facilidade pra chorar (o que não me torna mais ou menos sensível do que todas outras pessoas).


Por que eu estou falando isso tudo?












03 DE ABRIL DE 2011
RIO DE JANEIRO - RJ
MARACANÃ










Em uma avenida movimentada, muitas pessoas a espera de seus ônibus... E uma pessoa, um homem aparentando ter por volta de 70 e poucos.
Diferente de todos outros que lá estavam, bem vestidos, perfumados, com bolsas bonitas e cabelos bem arrumados, esse senhor chegou com roupas aparentemente bem maiores do que as que ele deveria vestir,bem sujas e um pouco encardidas,... Com o cabelo bem ralinho e uma sacola plástica cheia de latinhas dentro!
Olhei para ele e um sentimento estranho veio no meu peito, um aperto... Fiquei incomodada... Todas as pessoas continuavam suas conversas, suas ligações, parecia que o tal homem não tinha chegado lá, parecia que ele era um ser invisível, que apenas eu enxergava-o.
Não bastasse essa indiferença, o homem começou a mexer na lixeira, como uma caça ao tesouro... Parecia que ele estava à procura do maior tesouro do mundo. 
Tal cena não é inédita, diariamente nos deparamos com pessoas que sobrevivem com trocados que conseguem ganhar com latinhas de refrigerante... Mas vamos voltar ao tal "Homem Invisível"!
Ele, após alguns segundos sem achar nada de seu interesse, mostrava uma cara de decepção, mas continuava a fuçar o lixo incansavelmente!
Minutos depois, percebo a mudança na feição daquele senhor, que tinha idade para ser meu avô,... Uma felicidade tomava conta daquele velhinho, como se ele finalmente tivesse encontrado o tal tesouro! Na hora, pensei que ele deveria ter encontrado muitas outras latinhas, ou mais, dinheiro, ou algo assim, mas não... Antes tivesse dentro daquela lixeira laranja, (que mais parecia um baú com um tesouro indecifrável para aquele homem) dezenas de latinhas, uma barra de ouro, uma poção mágica, se isso fosse possível! Quem dera...


Mas não, no mesmo instante que o rosto daquele homem se encheu de alegria, ele tirou as mãos do interior da lixeira trazendo um papel bem sujo (acho que era um guardanapo) com restos de comida, pipoca (daquelas de pacote rosa) e sei lá mais o que. E numa velocidade incrível ele COMIA aqueles restos, com um enorme prazer... 
Naquele momento me senti a pessoa mais impotente do mundo, não sabia o que fazer e só me restaram as lágrimas! Como poderia uma criatura, criada por Deus igual a mim, com os mesmos direitos que eu, com... Não sei, com o mesmo direito de ter dignidade que eu, estar lá, catando lixo e comendo e sendo feliz por aquilo!?
Não tinha um dinheiro na mão, um mercadinho por perto... Nem uma barrinha de cereais na bolsa! Tive vontade de abraçar aquele homem, mas não abracei. Só chorei, chorava muito! Fiquei triste!
Acho que nem todas lágrimas caíram apenas pela tristeza em ver aquele homem naquelas condições... Algo que me entristeceu muito foi a indiferença das pessoas que estavam naquele lugar. Elas não olhavam ao menos para aquela situação, como disse antes, todas estavam contentes, conversando, esperando seus ônibus! E nenhuma delas notavam a presença daquele pobre maltrapilho. Uma ou duas olhavam e rapidamente desviavam seu olhar daquela situação toda, como "Não estou vendo, logo não tenho culpa de nada disso!".


Triste saber que existem pessoas vivendo em situações tão precárias! Triste pensar que meus cachorros se alimentam e recebem mais carinho do que aquele senhor.
A fome, miséria e toda essa realidade não é novidade para nenhum de nós, mas uma coisa é você saber e ver na TV, a outra, é esta realidade estar a menos de 2 metros de você!
Fiquei muito mal, e acho que aquela imagem triste ficará na minha cabeça pra sempre... Pra sempre que eu reclamar de qualquer coisa, por maior que ela seja... Quando falar que estou cansada de comer todo dia na rua, ou de comer sempre a mesma coisa!


De vez em quando a vida precisa dar umas sacudidas na gente para que possamos aprender a valorizar TUDO que Deus nos concede, né?
Para finalizar, e completar, compartilho com vocês uma das primeiras coisas que veio na minha cabeça enquanto eu voltava para casa, refletindo sobre tudo que vi, junto com o poema do Manuel Bandeira, que deu o start do post...


O Ritual - o filme

Olá, pessoal!
Quanto tempo, não?
Bom, minha vida anda uma correria ... Tenho vontade de vir aqui compartilhar várias coisas, mas me falta tempo!

Um dos temas que queria tocar aqui foi escrito de maneira simples e bem parecida com o que eu planejava falar aqui... Ah, sim... O assunto é o filme "O Ritual", que me surpreendeu muito positivamente! Diferente do que parecia, não era "mais um filme de terror". Recomendo a todos que assistam, principalmente se você for católico!
Então, para otimizar o tempo e compartilhar com vocês um pouquinho da mensagem do filme, segue o link da matéria publicada no blog do Alegra-te, que expressa bem isso !

Desculpem a pressa (e mais uma vez tenho a sensação autista de que estou me reportando a ninguém), mas acho que vocês vão curtir!
Está aberta a discussão!